Por Lucas Wink
O que é que a experiência de escuta pode nos informar sobre a performance, sobre os valores ecológicos, sobre as participações, políticas e reivindicações de um grupo de bombos? Quais são os sons que marcam as relacionalidades e os itinerários destes agrupamentos pelos espaços das festividades populares?
Este documento resulta de um experimento realizado em 25 de fevereiro de 2020 junto do Grupo de Bombos de São Sebastião de Darque durante as Festas de Carnaval de Miranda do Corvo, em Portugal. Da manhã ao entardecer, acompanhado de dois assistentes e de uma chuva intermitente que insistiu em interferir no decorrer das celebrações, interagi, observei e gravei em áudio a atuação dos bombos em seus pujantes movimentos coordenados; registei a polifonia dos eventos sônicos que permearam os trajetos dos tocadores e do público; gravei o som de procedimentos, objetos e outras materialidades; assim como depoimentos dos integrantes em situações de convívio descontraído. Partindo da análise, seleção e edição, formulei um documento que narra através do som os acontecimentos do terreno.
O trabalho que aqui apresento é um convite à experiência de se ouvir os bombos. Demanda, é certo, uma imaginação sônica por parte do ouvinte de modo a imergir e percorrer os espaços, as ações, os objetos, as vozes dos tocadores. É uma chamada à prática da escuta, que percebe no som uma modalidade sensível de se conhecer o mundo.
Sugiro a utilização de headphones.
* Os depoimentos por ordem de apresentação são os dos tocadores Carlos Rego, João Parra, Miguel Rodrigues e Jorge Sousa.
**Pedro Balazeiro, técnico de som, gravou áudio e trabalhou na pós-produção. Raquel Melo também esteve no terreno, estabelecendo conversas com integrantes que foram registadas. Também narrou o texto da introdução.
*** O trabalho está inserido no âmbito do meu doutoramento realizado na Universidade de Aveiro, Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e cofinanciado pelo Fundo Social Europeu através do Programa Operacional Regional Centro (SFRH/BD/139998/2018); e do Projeto EcoMusic-Práticas Sustentáveis: um estudo sobre o pós-folclorismo em Portugal no século XXI. Tem o apoio do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade de Aveiro.