Documentários

Documentários apresentados em festivais, mostras e ciclos de cinema e filme etnográfico:

“Poéticas do Canto Polifónico” | “Poetics of poliphonic singing”, realização de Maria do Rosário Pestana e João Valentim

O processo que conduziu ao reconhecimento da UNESCO do cante alentejano, estimulou mulheres a organizarem-se para inscreverem na matriz do Património Cultural Imaterial o seu conhecimento de outras práticas polifónicas de matriz rural. As iniciativas dirigem-se aos grupos de cantares dos quais fazem parte, aos poderes locais, à academia, à criação de redes de comunicação com grupos de outras localidades e à organização de encontros com detentoras de repertórios e competências específicas desse modo de cantar. Esse canto a duas, três ou mais vozes femininas, podendo a mais grave ser duplicada por homens, gera no século XXI novas ações sociais, assumidamente por mulheres, num enfrentamento interventivo e crítico das dinâmicas sociais atuais. A sustentabilidade destes processos musicais que rememoram saberes tradicionais em novos contextos e práticas sociais, são o foco da análise do estudo. Interessam-me questões como a sustentabilidade de sistemas musicais complexos, nomeadamente, a sua correlação com a prática social reiterada e a transmissão de conhecimento; a ética do bem comum e da vida social pública; a participação intersubjetiva no fazer da música e a criação de redes de comunicação potenciadas pelo canto a vozes no século XXI. Pretendo, também, conhecer as cantadeiras que agenciam este projeto e analisar os processos sociais e políticos que contextualizaram as ações de documentação e de institucionalização desta prática performativa, numa cartografia relacional e afetiva. 

Documentadas desde finais do século XIX por diferentes folcloristas, as diferentes formas de canto a vozes de mulheres não foram apropriadas pelo discurso folclorista do regime do Estado Novo e foram periféricas no processo de refundação do folclore em democracia. 

Este estudo surgiu do convite para que estudasse o “canto de mulheres” ou as “polifonias rurais”, no século XXI em Portugal, formulado por algumas das mulheres agentes neste processo. Sou, por isso, uma agente no processo em estudo.

Maria do Rosário Pestana

MEYES: music to our eyes

Aveiro, VIC// AVEIRO ARTS HOUSE, 16 de maio de 2022

Mais informação

First-time Fimmaker sessions 2022 | Lift-Off Global Network  

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Olhares do Mediterrâneo | Women’s Film Festival (8.ª edição) 

Lisboa, Cinema S. Jorge, 10-14 de novembro de 2021

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2. ª Mostra de Cinema Português 

Vila Franca de Xira, junho de 2021

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10.º fifer –  Festival Internacional do Filme Etnográfico do Recife 

Recife, 26-29 de abril de 2021

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Caminhos do Cinema Português | Ciclo Antecâmara – Programa!Ação2 – Rever o Passado, Hoje

Associação Académica de Coimbra, Mini-Auditório Salgado Zenha, 3 de novembro de 2020

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XX Encontros de Cinema de Viana do Castelo | Primeiro Olhar

Viana do Castelo, 3-27 de novembro de 2020

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Vista Curta – cinema & outros desvios 

Cine Clube de Viseu, 27-31 de outubro de 2020

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Centro de Estudos Cinematográficos | Cineclube Universitário de Coimbra

Coimbra, 7 de outubro de 2020

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Outros documentários:

“Cantos, Cantedos and Cantarolas: The multipart singing in São Pedro do Sul”, realização Maria do Rosário Pestana e João Valentim

“Do Fazer ao Tocar Cana Rachada”, realização Maria do Rosário Pestana e João Valentim

“A Viola toeira: artes de fazer e de tocar”, realização de Rui Marques, Maria do Rosário Pestana e Cristina Faria

A realização do documentário “A viola toeira: artes de fazer e de tocar” inseriu-se no âmbito do projeto EcoMusic – Práticas sustentáveis: um estudo sobre o pós-folclorismo em Portugal no século XXI, e resultou de uma parceria estabelecida com o ÀCORDA – Encontro de Cordofones Tradicionais Portugueses.

O documentário tem como propósito divulgar os resultados de um estudo sobre o revivalismo da viola toeira que articula pesquisa em fontes históricas e metodologias de trabalho de campo, privilegiando o diálogo com músicos, construtores de instrumentos e investigadores. 

Tomando como ponto de partida vários projetos de revivalismo da viola toeira que emergiram em Coimbra em meados da década de 2010, este documentário expõe as particularidades organológicas e as técnicas de execução associadas à viola toeira, dá a conhecer algumas das figuras que, entre os séculos XIX e XXI, se destacaram como construtores e tocadores e documenta os contextos performativos em que este instrumento se fez ouvir.  O documentário propõe também uma reflexão sobre a ação de etnógrafos e folcloristas no mapeamento e caracterização deste cordofone e, inclusive, na emergência da denominação ‘viola toeira’. Finalmente, documenta projetos orientados para a revitalização deste instrumento, nos anos que se seguiram ao 25 de Abril e na atualidade. 


“Com mãos se faz o som: as vidas de uma viola d’arame”, realização de Rui Marques

Resgatada do caos de objetos inertes e empoeirados de uma loja de antiguidades, uma viola de arame centenária é confiada às mãos de um violeiro. Sobre a banca de trabalho da oficina, a viola interpela o artesão a desvendar os segredos do ofício do seu criador e as marcas de uso impressas pelas mãos que a tocaram, para alcançar uma nova vida, regressando agora ao universo dos sons. Eis o ponto de partida para um documentário que convida à redescoberta de matérias-primas, manualidades e sonoridades e a uma reflexão sobre a sustentabilidade de um ecossistema que interliga recursos naturais, violeiros e músicos.

Um filme de Rui Marques, com Pedro Caldeira Cabral, Orlando Trindade e Joaquim António da Silva.

Fotografia e montagem: Tiago Cerveira.

Banda sonora adicional: Daniel Pereira “Cristo”.


“Repentes e Melodias | Uma Travessia”, realização de Jorge Freitas Branco e António Medeiros

“Repentes e Melodias I Uma Travessia”, foi um documentário produzido para o projeto de investigação Ecomusic. O Ecomusic cartografa, analisa e discute a renovada operacionalidade do folclore musical em Portugal (FMP) no século XXI, nomeadamente, o papel social, político e económico que circunstancia tanto em contextos locais como nos media, nos mercados globais da world music e na web. Uma equipa interdisciplinar explora no terreno abordagens face-a-face e um sítio em linha com um laboratório digital que permite aos investigadores, músicos e público trabalharem em conjunto.

produção: Jorge Freitas Branco e António Medeiros

entrevistas: Jorge Freitas Branco, António Medeiros e Filipe Ferraz

câmaras/som: Filipe Ferraz, Joana Farinha e Miguel Apolinário

montagem: Filipe Ferraz

produzido por: Wamãe I Antropologia Pública


“Conta-me, viola!”, realização de Felipe Barão

O documentário “Conta-me, viola!” trata-se de uma etnografia visual de um processo de construção de uma viola toeira (uma das oito tipologias de violas de arame portuguesas) e é parte integrante da investigação sobre o processo de revitalização deste cordofone proposto pela Associação Cultural Museu da Música de Coimbra (MUS.MUS.CBR.). Inseriu-se no âmbito do projeto EcoMusic – Práticas sustentáveis: um estudo sobre o pós-folclorismo em Portugal no século XXI. 
A viola toeira foi considerada “quase extinta” por Ernesto Veiga de Oliveira (ca.1966), quando referiu subsistirem raros exemplares e escassa memória da sua prática. Para “desextinguí-la”, Eduardo Loio, fundador e diretor da MUS.MUS.CBR., ensina sua construção na Loio Luthier School (LLS) a partir de modelos oitocentistas (musealizados ou pertencentes a coleções particulares). Não há critérios para a seleção dos alunos na LLS, que se diversificam em idade, gênero, nível de graduação escolar e proficiência musical. Sendo assim, valendo-me da autoetnografia como metodologia, submeti-me ao processo de construção de uma viola toeira ao longo de nove meses, registando todo esse percurso em audiovisual. O documentário nascido dessa jornada pretende suscitar reflexões sobre como esse instrumento pode atuar como repositório de memórias e subjetividades de quem o constrói. Para isso, partindo do conceito de “instrumento-arquivo”, este documentário revela as minhas decisões, estéticas e funcionais, tomadas para a construção de um modelo atualizado de uma viola oitocentista. Ele também apresenta o dia a dia da escola de luthieria de Eduardo Loio, observando as formas de mediação que um instrumento ainda não finalizado promove entre os alunos-construtores. 


“O Pandeiro da Folia do Espírito Santo”, realização de Ana Gaipo

O pandeiro é um dos instrumentos musicais que integra as Folias das festas do Espírito Santo na ilha de S. Miguel. A sua função é acompanhar o canto da Folia servindo a orientação e marcação do tempo, elemento relevante na coesão da performação entre cantadores e instrumentistas. A sua prática desenvolve-se pelo movimento ascendente e descendente do pulso, resultando um som arrastado e contínuo, entre cada ataque da pulsação do canto. O modo de execução deste instrumento e o material utilizado na sua construção, o latão, concorrem como elementos determinantes para que represente, no entender dos seus interlocutores – cantadores, tocadores e recetores – o “som da Folia”. Na ilha de S. Miguel, João Freitas, de 62 anos, latoeiro desde os 12, é o único construtor de pandeiros de Folia


“Peditório da Folia das Feteiras”, realização de Ana Gaipo

O Peditório é a primeira função da Folia no contexto dos diferentes rituais que compõem a festa do Espírito Santo. Este decorre entre os meses de janeiro e fevereiro com o objetivo de serem angariadas ofertas monetárias ou em género que ajudarão nas despesas, do Império e do Mordomo, para a realização da festa. Durante várias horas, a Folia, percorre as casas dos Criadores de gado, da freguesia e arredores, solicitando a sua colaboração. A Folia canta a sua moda com a qual os cantadores da frente realizam quadras  de improviso, dirigidas e personalizadas às pessoas que visitam, tais como o nome, evocação a membros da família, situações familiares, e.o, constituindo uma espécie de “narrativa” do ritual. O conhecimento  que os membros da Folia têm das pessoas que visitam decorre da proximidade existente entre si, por serem todos da mesma freguesia. Quando a Folia é proveniente de outra freguesia, o Mordomo ou qualquer outro membro do Império encarrega-se de fornecer informações, aos cantadores da frente, sobre os destinatários a quem as quadras serão direcionadas ou dedicadas. É a partir desta relação que é construída a expectável função da Folia enquanto “voz do Espírito Santo”, promovendo a interação com o Divino, numa estreita relação entre música e poética, sustentando princípios de fé. Para além do Peditório, a Folia participa noutros rituais como  a Coroação, Ceia dos Criadores e Recolha do gado. Pela dinâmica que está implícita às funções da Folia, na preparação e desenvolvimento da festa do Espírito Santo, é tida como uma espécie de  mestre de cerimónias que se encarrega de conduzir a sua “narrativa” cerimonial e ritual.